CEO da SAF do Vasco aponta recuperação judicial como passo para atrair investimentos e retomar competitividade

 
O CEO da SAF do Vasco, Carlos Amodeo, afirmou que o pedido de recuperação judicial foi adotado como instrumento indispensável diante do cenário financeiro encontrado na chegada da nova gestão. Segundo o executivo, o time carioca convivia com desequilíbrio progressivo de caixa, ausência de garantias de cobertura futura e uma perspectiva de endividamento que, mantida sem intervenção, colocaria o projeto em risco.

A explicação foi apresentada durante o Conexão Governança – Capítulo Rio de Janeiro, organizado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, oportunidade em que o executivo expôs o contexto e apontou os caminhos considerados para a reorganização.

Ao assumir a administração, Amodeo relatou que a SAF se deparou com compromissos não honrados e dívidas acumuladas ao longo de um período de dois anos, incluídos valores referentes a transferências, premiações e contratos com intermediários. Essas obrigações já representavam inadimplência relevante e pressionavam o fluxo de caixa, em um momento em que o clube ainda dependia de aportes que não possuíam garantia.

A projeção orçamentária prevista para 2025 colocava a SAF sob expectativa de uma entrada expressiva da 777 Partners, o que, segundo o executivo, nunca teve sinalização concreta de que seria cumprida, agravando a previsão operacional de curto prazo.

“Mais do que isso, nós tínhamos um orçamento para o ano de 2025 que previa um aporte de capital de 330 milhões de reais em setembro de 2025. Aporte esse que jamais aconteceria, como de fato não aconteceu. Então, nós tínhamos um problema de curtíssimo prazo de meio bilhão de reais”, pontuou.

Diante desse contexto, a SAF contratou a consultoria Alvarez & Marsal para levantar dados financeiros e simular cenários futuros. O diagnóstico enviado em setembro de 2024 descrevia uma curva negativa crescente, indicando que a demanda de caixa para manutenção das operações ultrapassaria a capacidade de pagamento em um horizonte curto.

O estudo projetava déficit relevante já no primeiro ano, com expansão contínua nos exercícios seguintes, chegando a patamares incompatíveis com a receita previsível da agremiação. Na avaliação de Amodeo, o documento evidenciava que, mantidas as condições existentes, a estrutura econômico-financeira do Vasco se tornaria insustentável.

Com essas informações em mãos, a direção da SAF iniciou uma fase de análise de alternativas, passando por renegociações bilaterais, busca de novas fontes de recursos e revisão de processos internos. A conclusão foi de que nenhuma medida isolada seria capaz de conter o risco imediato nem de garantir previsibilidade para o médio prazo, o que tornava o recurso judicial a única opção capaz de estabilizar a operação.

A partir dessa percepção, a recuperação judicial passou a ser tratada como etapa central para reordenar as obrigações, evitar colapsos do fluxo de caixa e preservar a continuidade do projeto. A ideia foi reforçada pelo executivo ao explicar que todas as possibilidades foram avaliadas sem que outra solução viável surgisse.

Amodeo destacou que, diferentemente de outros clubes que utilizam esse mecanismo para reduzir passivos, o Vasco adotou a recuperação como estratégia para impedir a insolvência, mesmo com as responsabilidades legais associadas à decisão. Antes de formalizar o processo, a SAF estabeleceu uma mediação conduzida pela Fundação Getulio Vargas, buscando estruturar os passivos trabalhistas e preparar entendimentos com credores considerados prioritários para garantir viabilidade ao plano.

Ao longo do ano, o Cruzmaltino manteve tratativas visando alongamento de prazos sem reduções expressivas de valores, evitando disputas judiciais e preservando a confiança dos envolvidos. No mês de outubro, os cariocas obtiveram a aprovação da recuperação judicial da agremiação por 98% dos credores.

Agora, segundo Amodeo, o Vasco aguarda a homologação judicial definitiva, etapa que antecede a execução integral do plano aprovado. Ele afirmou que a reorganização das dívidas recoloca o clube em posição mais favorável para receber investimentos e voltar ao caminho competitivo.

“Com isso, a gente encerra essa etapa de reestruturação aguda no clube e passa a olhar para o horizonte do clube com as suas dívidas organizadas, com o fluxo de pagamento das dívidas organizado. (…) Isso torna o Vasco um ativo altamente atrativo para que novos investidores possam, então, olhar para o clube, fazer um investimento e torná-lo sustentável a longo prazo, fazer com que o Vasco retorne com o protagonismo esportivo que foi presente durante muitos anos no passado e que deixou de ser em virtude de sucessivas más gestões”, concluiu.

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